segunda-feira, 12 de maio de 2014

Avaliação do Movimento por Acessibilidade:

A NECESSIDADE DE UMA ANALISE CLASSISTA

Jataí, maio de 2014 – Comunicado nº 2 da Oposição CCA/Jataí
oposicaocca.blogspot.com / oposicaocca@gmail.com

"Ou os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma luta; ou
se dissociam do seu povo, e nesse caso, serão aliados daqueles que exploram o povo"
Florestan Fernandes

Entender o processo constitutivo da sociedade capitalista e, consequentemente, compreender sua verdadeira face, só é possível a partir do entendimento dos conflitos presentes dentro dela. Nossa sociedade nada mais é do que o produto de uma longa e ininterrupta luta entre classes distintas, que em alguns momentos se apresenta de forma clara e em outros é velada.

A burguesia, constituída por uma parcela insignificante da sociedade, na busca incessante em se apropriar de tudo que é produzido pela humanidade, atua no conflito de modo a garantir seus próprios interesses, mesmo que estes sejam sinônimo de intensificação da exploração da classe trabalhadora. Os trabalhadores, na medida que são impedidos de terem acesso ao fruto de seu trabalho, se veem obrigados a vender sua força de trabalho para garantir condições mínimas de sobrevivência.
 
O estado de exploração em que estão submetidas as camadas populares, somadas a procura desenfreada da burguesia por novas formas de acumulação, resulta em uma precarização da vida dos
trabalhadores. Podemos utilizar como exemplo dessa realidade as péssimas condições de acesso ao Campus Jatobá da UFG/Jataí. Estudantes e trabalhadores pobres, que não têm condições de adquirir veículos mais seguros e que também não têm acesso à um sistema de transporte público de qualidade, acabam ficando a mercê das péssimas condições de mobilidade, condições estas que contribuíram para a morte da estudante Josiane Evangelista.
 
A luta por melhores condições de mobilidade e acessibilidade deve ser encarada como uma luta da classe trabalhadora. Dessa maneira, nossas reivindicações devem expressar nossos interesses imediatos diante de uma situação específica, mas que façam relação com os nossos interesses históricos enquanto classe. Sendo esses os nossos objetivos, significa que as práticas, táticas e ações adotadas por nós não devem entrar em desacordo com os mesmos. Somente a atuação a partir de uma tendência classista, acompanhada de uma organização pautada na construção pela base, nos tornará um movimento de massas.

O poder da combatividade como instrumento de pressão

A paralisação trouxe contribuições objetivas muito expressivas para a nossa atuação enquanto movimento por acessibilidade. Demonstrou, dentre outras coisas, que o caminho que trás resultados sensíveis para nossa realidade não é a via do legalismo; isto é, buscar atuar dentro e preso pelas amarras da legalidade burguesa, através apenas de reuniões com os representantes legais dos órgãos que tratam das questões que reivindicamos. Essa atuação, entendida na nossa conjuntura, baseava‐se na premissa, que se demonstrou falsa, de que a ação direta se justificava quando, e apenas quando, buscávamos marcar uma reunião com os órgãos públicos, e que essas reuniões, uma vez marcadas, já indicariam que os representantes se demonstraram razoáveis e que seríamos de pronto atendidos; ou que seria a polarização nessas reuniões, e não a ação direta, que traria os resultados que esperávamos. A experiência provou o quanto essa concepção estava errada, não eram as reuniões que garantiriam as pautas atendidas, tanto é que mesmo depois da desocupação tivemos diversas reuniões em que não avançamos em nada. A legalidade burguesa coloca obstáculos convenientes à nossa chance de ser bem‐sucedidos nessa empreitada; lutar pelas regras definidas pelo adversário, no jogo por ele criado, significa já estar derrotado desde o primeiro momento. Foi a combatividade que fez o reitor desmarcar todos os seus compromissos e se despencar as pressas para nossa cidade, temeroso que a radicalização se acentuasse e querendo ver de perto o que acontecia; foi ação direta que garantiu os pequenos avanços que até então conseguimos, e será ela que garantirá a continuidade dessas melhorias e o sucesso em reivindicar novas.
Estudantes mascarados na entrada da UFG, durante o piquete.

Optando pela combatividade e, entendendo a conjuntura política que enfrentamos, de encrudescimento da repressão policial e o esforço obstinado de se criminalizar os movimentos sociais, uma das implicações diretas dessa tomada de ação na realidade prática será o cuidado com a segurança e o anonimato dos militantes. Com isso em mente, desde o primeiro momento da ocupação apontamos para a necessidade de assegurar nossa segurança, cobrindo o rosto nos momentos em que essa medida se mostrava  conveniente, quando da ação mais clandestina ou nas falas, quando defendíamos uma atuação rigorosamente combativa. Contudo, alguns camaradas que conosco construíram a mobilização e, apesar de nossas advertências, negligenciaram essas medidas básicas de segurança, receberam ameaças individuais ou telefonemas suspeitos. Além disso, o uso de máscaras proporciona uma identidade coletiva muito cara no momento da atuação, intimidando nossos adversários, ilustrando nossa unidade e disposição para a radicalização, o que, ainda que esteticamente, vem a reafirmar os métodos que compreendemos como os que de fato garantem nossos objetivos. Zelando pela integridade dos que conosco se doaram pelo atendimento das pautas é que sugerimos que todos os militantes do movimento preservem sua segurança e anonimato quando for conveniente.

E a necessidade de (re)organização se torna evidente

A presença de diversas pessoas durante a ocupação do pórtico da UFG somente durante as assembleias, e o esvaziamento dos espaços de discussão do Movimento por Acessibilidade logo em seguida à desocupação, evidenciam a importância do trabalho de base na luta. É importante, no entanto, saber diferenciar os momentos conjunturais, para que possamos compreender como a discussão deve ser levadas às bases em cada período.
 
Durante os dias que estivemos realizando piquete na entrada da Universidade, tivemos como meio principal de propaganda o ato em si. Essa ação de fechar a entrada da UFG teve uma boa visibilidade
nos primeiros dias, mas foi perdendo essa características com o passar do tempo. É importante ressaltar que foi se perdendo apenas a característica de propaganda, mas a força de pressão continuou
existindo enquanto houve o fechamento. O que isso significa? O esvaziamento durante a ocupação significou, além do desgaste de alguns, a falta de um trabalho incisivo durante as assembleias, ou seja, não foi demonstrado aos presentes nos espaços deliberativos a necessidade de se manter no local não só nos momentos de voto. Além disso, isso evidencia também a despolitização do estudantado de Jataí, que insiste em delegar a tarefa da luta para uma minoria, sem se comprometer com algumas tarefas. Para o movimento, demonstrou claramente que a simples discussão com aqueles que se posicionavam contrários (principalmente por uma questão de classes), embora trouxesse afirmações de apoio, era apenas simbólico, já que esse apoio nunca era convertido em prática.
 
O fim do piquete não indicou, no entanto, total desmobilização dos estudantes e professores. O Movimento por Acessibilidade (MA) continua se reunindo, mas o esvaziamento atual indica a necessidade de uma reestruturação que não nos era permitida durante a ocupação. Se antes nos organizávamos para garantir a ocupação, agora temos que nos reorganizar para ampliar nossa atuação, de maneira que o MA não fique restrito a uma pequena frente que comande determinadas ações. É necessário garantir uma estrutura que converta o apoio em prática, que leve o debate da acessibilidade às bases.

Nós da RECC estivemos no processo de construção de toda a manifestação, desde a deliberação em assembleia, apontando que a radicalização imediata seria a melhor maneira de garantir as pautas, aos espaços atuais. Sendo assim, temos convicção em afirmar que o enfraquecimento está intimamente ligado à falta de trabalho de base, que tem sido deixado de lado desde a defesa de mesas de negociação a qualquer custo.
 
Diante disso, defendemos a necessidade de reestruturação do Movimento por Acessibilidade. Para que o movimento se fortaleça novamente é necessário que nossa atuação se volte para as nossas bases, através da construção de comitês de base nos cursos, que tenham a capacidade de discutir e deliberar as próximas ações, fortalecendo a atuação estudantil, levando a necessidade da prática e não só da discussão, e deixando de lado o modo de frentismo, incapaz de ampliar a atuação. A soma dos comitês de curso resultarão em um fórum deliberativo, que será conduzido de acordo com o acúmulo de discussão em cada curso, garantindo a organicidade e o crescimento do fórum. Só dessa maneira, através da reorganização e radicalização, teremos capacidade de fortalecer a luta para alcançarmos as nossas pautas.

IR AO COMBATE SEM TEMER! OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER!!!

Imagens do piquete na UFG de Jataí:
 




 

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