segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Análise do processo eleitoral para o DCE da UFG


Em setembro se iniciou na UFG o processo para eleição de uma nova gestão ao DCE. O processo contou com a inscrição de três chapas, algo que a muito tempo não acontecia na UFG, já que nos últimos anos a eleição sempre ocorreu com chapa única. Acreditamos que a inscrição de mais de uma chapa é uma consequência das jornadas de luta de junho, que despertaram no estudante maior interesse na discussão política e construção do Movimento Estudantil, mas também é um reflexo das últimas gestões, que nunca realizaram um bom trabalho de base para integrar os estudantes nas discussões da Universidade e à entidade.

Nós da Oposição Classista, Combativa e Autônoma ao DCE da UFG estivemos na construção da Chapa 1, que teve como norte alguns de nossos documentos, no entanto, ao longo do processo de construção da chapa, decidimos romper, devido a diversos problemas que apresentamos em uma carta pública de ruptura. Após optarmos pela ruptura, decidimos realizar esta análise política do processo, com a análise específica dos programas das chapas que estão disputando o processo eleitoral.



Chapa 1, Zumbi dos Palmares
A Chapa 1, Zumbi dos Palmares, teve incialmente como proposta central a construção de uma luta classista e combativa, independente de partidos políticos e do governo. No entanto, ao longo do processo eleitoral a atuação da chapa foi levada à degeneração e capitulação, consequência de sua linha aparatista impulsionada por alguns setores políticos que compunham-na.

O discurso classista foi substituído por um posicionamento objetivamente policlassista, com afirmações, por parte de alguns integrantes, de que a chapa deveria “representar todos os estudantes”, inclusive os estudantes burgueses. Dando centralidade para as críticas à chapa da atual gestão, a Chapa 1 acabou por repetir o discurso reformista das correntes paragovernistas, de que o problema do Movimento Estudantil na UFG é apenas um problema de direção e que qualquer capitulação programática seria válida, desde que a Chapa 2 não saia com a gestão novamente. Desse modo, o desenvolvimento de um programa baseado na luta reivindicativa e trabalho de base foi deixado de lado, dando lugar para a crença de que a resolução de todos os problemas do ME estão na abertura dos espaços deliberativos da entidade, isso ficou bastante claro quando a Chapa 1 afirmou ser mais democrática por dar direito a voz e voto aos estudantes secundaristas nas reuniões de chapa.

Na busca desenfreada pela derrota da Chapa 2, a Chapa 1 tentou impulsionar uma aliança com a Chapa 3, com o intuito de “unir o campo anti-governista”, pois “a divisão apenas fortalece a Chapa governista”. Certamente, a concepção de anti-governismo não esteve muito clara para os membros da chapa 1, que entenderam o princípio apenas como um combate direto à chapa formada pelos partidos governistas, uma busca imediatista, como se essa vitória fosse o combate ao governismo que está atrelado ao Movimento Estudantil atualmente. Quanto a isso, precisamos ressaltar que, primeiramente, a origem do governismo está intrinsecamente ligado à suas bases reformistas, ou seja, o PT só se tornou governista a partir do momento que assumiu o governo central, antes disso, sua atuação esteve voltada à defesa da disputa do parlamento como vitória para os trabalhadores. Isso é bastante evidente nos partidos que compõem a Chapa 3 (PSTU, PSOL e PCB), que buscam, através da disputa da democracia burguesa, conquistar o parlamento e reformar o Estado, percorrendo o mesmo caminho trilhado pelo PT. Portanto, o combate ao governismo não se resume ao combate da chapa hegemonizada por partidos governistas, mas também no combate ao reformismo, que está impregnado nas atuais estruturas do Movimento Estudantil.


Chapa 2, linha de frente
A Chapa 2, de nome Linha de Frente, formou-se como a re-candidatura da atual gestão. Apesar de contar com novos membros, que não compunham a gestão anterior, a chapa não conta com novidades, apenas com a velha defesa das reformas lançadas pelo governo PT, como por exemplo a defesa ao Reuni, reforma que precarizou a educação pública superior. Isso ocorre, pois a chapa é hegemonizada pelo PT e PCdoB, partidos que estão atrelados ao governo central petista.

A gestão, assim como a Chapa, saiu abertamente em defesa de todos os programas de reforma implantados pelo governo petista, alegando que os problemas da educação estão relacionados com a falta de investimentos no setor. Segundo eles, o Reuni foi uma reforma benéfica para o povo, pois possibilitou a entrada do estudante pobre na Universidade pública, e que deve ser apenas complementado com a ampliação das estruturas da universidade. No entanto, se analisarmos de maneira aprofundada, veremos que nem o programa possibilitou a permanência do estudante pobre na universidade, pois não há serviços de assistência que garanta isso e a real barreira para o povo ingressar na Universidade pública continua existindo, o vestibular, e nem é a intenção do governo PT aplicar investimentos para resolver os problemas da educação, isso fica bastante claro quando analisamos o novo PNE, proposto pelo governo Dilma. O governo PT nada mais faz do que implantar reformas nos moldes exigidos pelo Banco Mundial, com vistas a privatizar a educação e direcionar sua lógica para a produção capitalista neoliberal.

Os resultados do Reuni se esboçaram na greve de 2012, uma das maiores greves da educação superior das últimas décadas. A posição da gestão ficou bastante clara. Enquanto os estudantes se organizavam nas localidades e nacionalmente através do Comando Nacional de Greve Estudantil (CNGE), os governistas organizavam ônibus rumo à Brasília, para uma reunião com o ministro da educação, convocada pela UNE, entidade traidora dos estudantes.

Além da defesa clara do governo PT, outra característica da Chapa 2 está no modo como concebem o Movimento Estudantil, de maneira parlamentar e cupulista, ou seja, não há o mínimo trabalho para a reconstrução de um ME de bases. A atuação da gestão nunca se esforçou para trazer os estudantes para as discussões, de modo a despertar a necessidade de ação direta, pelo contrário, a resolução de reivindicações sempre foi apontada para negociações, sem a devida consulta aos interesses dos estudantes.


Chapa 3, Independência para lutar, coragem para mudar
A Chapa 3, Independência para lutar, coragem para mudar, é formada por uma aliança entre PSOL, PSTU, PCB e estudantes independentes, ou seja, a chapa é hegemonizada pelas correntes paragovernistas. A prática desses partidos no Movimento Estudantil já é bastante evidente, a luta pelo campo do reformismo (sensibilização de parlamentares, disputa de conselhos anti-democráticos, negociações pacíficas, etc), ou seja, a ilusão de democratização e moralização do Estado que por essência é imoral, pois é agente de exploração econômica e opressão política. Além disso, devemos recordar também a prática persistente desses partidos em disputar a direção da famigerada UNE, afirmando que o problema está na direção da entidade, negando os problemas de estrutura e a necessidade da construção do Movimento Estudantil pelas bases.

Na disputa da eleição do DCE, a prática da Chapa 3 não é diferente. A defesa de que o problema da entidade se resume na direção da atual gestão governista esteve presente em todos os debates e nos materiais da chapa. Sobre isso, devemos lembrar que nem sempre o DCE teve uma gestão governista e nem precisamos voltar muito no tempo para isso. A gestão anterior à “Ouse falar” era composta pelos paragovernistas, e apresentava problemas semelhantes aos da gestão governista, o reformismo como guia da gestão, sem o mínimo trabalho de base para integrar os estudantes à gestão.

Outra característica que deve ser analisada dessa chapa é o assembleísmo, ou seja, o culto às assembléias como solução à falta de trabalho de base das entidades. Segundo o integrante da chapa, os CEBs são anti-democráticos, pois as gestões dos CAs não levam as demandas das bases, sendo assim, seria melhor priviliegiar as assembléias, dando voz a todos os estudantes. Esse posicionamento é típico do paragovernismo, que não se propõe ao trabalho de base para que haja uma estrutura construída de baixo para cima, para que as demandas das bases sejam realmente ouvidas. Além de demonstrar o desinteresse na prática do trabalho de base, demonstra também a idealização de um espaço impraticável, a UFG possui mais de vinte mil estudantes, tendo três campi em cidades do interior de Goiás, isso por si só demonstra a impossibilidade da realização de assembléias ao invés de CEBs, como maior espaço de deliberação.


Qual o melhor caminho para a reconstrução do ME na UFG?
Tendo em vista os problemas analisados das Chapas concorrentes à gestão do DCE da UFG, nós da Oposição CCA defendemos o trabalho de base como prioridade para a construção da luta reivindicativa. O verdadeiro combate ao governismo e reformismo está na construção de base, através da democracia de base, ação direta, independência e no posicionamento classista, pois a defesa simultânea de interesses de classes antagônicas é impossível e acaba se tornando a defesa dos interesses da classe dominante, e afirmá-la pelo simples fato de disputar a direção de uma entidade é uma traição aos estudantes da classe e filhos da classe trabalhadora!

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